Coisas Solitárias
Sempre me chamaram a atenção os objetos ou cenas estáticas. De uma forma ou de outra, todos nós quando crianças perguntamo-nos: «O que acontece com as coisas ou com os lugares quando não os estamos olhando?».
Há algo nesses objetos que nos intriga, pois estamos acostumados a tratar apenas do mundo consciente imediato. O resto é como se parasse de existir assim que deixamos de olhar. No entanto, eles permanecem ali. Quietos. Ainda assim, existentes e independentes de nós. Muitas vezes tentei imaginar um mundo vazio de seres humanos: as coisas estariam lá na mesma, mas sem que ninguém que as visse. Existiriam para quem? Existiriam?
Por isso, volta e meia fixo algumas cenas com objetos parados no tempo. Coisas que estavam ali, estão e estarão na mesma posição mesmo que não haja alguém para vê-las. O fotógrafo é mesmo isto: a testemunha. Não sei, há algo nessas cenas que me remete à infância. É nesta época que nossa atenção encontra mais tempo livre para se fixar com mais cuidado, é nessa fase que construímos a nossa memória indelével.